quarta-feira, 6 de julho de 2011

Estrelas

Confesso que estava um pouco ansioso por receber aquela mensagem para poder sair de casa, os minutos passavam devagar e a minha cabeça já estava cansada de contar tic tac. Estava no computador a passar tempo quando oiço o pi do meu telemóvel acompanhado de uma vibração muito pouco intensa comparada com a maneira como vibro nas emoções.

Era a indicação de que tinha de sair. O Computador demorou uma eternidade a fechar os programas abertos para eu o poder encerrar e enquanto aguardava calcei-me. Pego na chave do carro e dirijo-me ao mesmo, pelo caminho com o porta chaves vou fazendo aquele efeito castanhola que tanto gosto, ora bate num dedo, ora bate noutro e faz ricochete na borracha do meio, um som alegre só para pessoas bem dispostas. Chego ao veículo cinzento de quatro rodas alimentado pela transformação da energia química do combustível em energia mecânica e deparo-me com a falta do comando da garagem no meu bolso, fui para trás e tive de o procurar pois não sabia dele. Com tudo isto passaram 10 minutos a voar, 10 minutos que se tivessem sido há 10 minutos atrás teriam demorado psicologicamente uma eternidade muito superior a 10 minutos. 10 minutos era o tempo que eu tinha dito que demorava a deslocar-me até lá. Estava portanto, 10 minutos atrasado, e eu que odeio chegar atrasado quando está apenas uma pessoa à minha espera.

Como de costume em mim, toca a ultrapassar todos os limites de velocidade durante o percurso, qualquer dia a coisa vai correr mal com uma cartinha da PSP ou do IMTT a aparecer-me em casa. Estaciono o carro em frente ao castelo, mando a mensagem a dizer que tinha chegado e que a princesa poderia então descer. Eu que sou uma pessoa muito organizada, com tudo planeado na sua cabeça, nesta noite não fazia ideia do programa que iríamos ter, já com a  companhia no carro expliquei isto mesmo e lá me decidi por irmos até ao Bom Jesus.

A primeira coisa lá em cima a fazer, para mim e como sempre, teria de ser observar a fantástica paisagem. Era de noite e corria uma brisa fresca, os meus braços estavam frios devido à minha teimosia em não usar casaco no verão, esfregava-os com as mãos na tentativa de os aquecer, sem resultado visto que estas encontravam-se igualmente frias, sinónimo de que o coração estava quente e então não me preocupei. Preocupei-me sim foi em perguntar-lhe a noite toda se ela tinha frio, por vezes isso talvez fizesse de mim um pouco chato, todavia fiz questão de lhe explicar que era o meu instinto protector para as pessoas de quem gosto muito a falar.

Sentámo-nos numa das tranquilas e relaxantes esplanadas que neste tempo de verão costumam estar lá abertas de noite, seguiram-se as sempre animadas e deliciosas conversas espicaçadas pelas coisinhas parecidas com bolotas que iam caindo das enormes tílias que faziam questão de ser testemunhas de tão belo momento. Já estava a ficar tarde e o frio para quem apenas vestia um pólo de manga curta ia apertando cada vez mais, porém, nem isso me demoveu da ideia de subir apenas mais alguns metros até ao mais imponente miradouro do concelho de Braga, o Sameiro.

À medida que ia subindo começou a aparecer o nevoeiro, cada vez mais cerrado obrigando-me a levantar o pé do acelerador até porque não estava responsável só por mim. Já lá em cima, o choque térmico do carro para o exetrior foi enorme, mesmo assim não desistimos e fomos andando até à zona dos escadórios, local que nos trasporta para um arranha céus imaginário onde é possível observar toda uma cidade e região. Convidados pelo selêncio natural da noite num local deserto e pelo canto das folhas das àrvores agitadas pelo vento chegámos ao ponto que queríamos. Fántástico, lindo, brutal, um sem número de palavras incapazes de descrever a beleza de tamanha paisagem que eu observava na melhor companhia possível. Lembro-me de mim a tremer como se tivesse sido há uns minutos, senti um braço delicado a estender-se pelas minhas costas como gesto de quem me queria reconfortar pelo frio que eu estava a passar e retribui estendendo o meu braço no seu ombro também.

Acabou por não me reconfortar só o corpo, mas também a alma e o coração, naquele momento em que o silêncio total pairou por largos segundos enquanto observava as nuvens que aos poucos nos foram tapando tão bela paisagem repleta de luzinhas. Ali para observar as estrelas tínhamos de olhar para baixo, eram as estrelas da terra e eu tinha a mais brilhante abraçada a mim. Fechei também os olhos por breves instantes com o intuito de apenas sentir, mais nada. Descemos pela falperra, deixei a princesa em casa e fui para a minha como um homem feliz que quer guardar a sua estrela o melhor que conseguir.

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