quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dublin

Não consegui dormir, também sabia que duas horas depois já tinha de acordar, só pensava no sonho que estava prestes a realizar, só queria que os ponteiros andassem.

O relógio desperta mas não fazia falta despertar, levanto-me e inicia-se a minha primeira viagem sozinho, coisa de adulto! Era o início, está quase, eu vou! Era o meu único pensamento. Saio de casa devidamente equipado rumo ao Sardinha, bem que eram praticamente horas de ir para a discoteca mas o motivo era outro. Chego e encontro o primeiro mar vermelho, pronto a entrar nas camionetas que nos iam levar ao aeroporto e às 4h da manhã já havia quem bebesse cerveja, ou será que devo dizer que ainda bebia cerveja? Fica a questão.

Chego ao aeroporto e visualizo mais um mar vermelho que já la estava e que nós o íamos fazer aumentar naquele momento. O Sá Carneiro estava dividido em dois, um lado do check in era para portistas e outro para braguistas, nessa altura éramos mais porque o núcleo duro do porto saía mais tarde ao invés do nosso que saía bem cedo. Já junto à porta de embarque íamos treinando as vozes com cânticos esporádicos que foram ganhando frequência e perdendo a vergonha ao longo do tempo, fazíamos a festa e os andrades ali presentes apreciavam-nos e tiravam-nos fotos. No avião fomos recebidos por duas simpáticas e belas alemãs que de português apenas sabiam dizer obrigado. O avião descola e com ele descolava uma legião cheia de esperança, depois foram duas horas a voar nas asas do sonho e como fiquei junto à janela consegui ver a cidade de Braga de lá de cima, provavelmente estaria a passar mesmo por cima de Vila Verde e olhando para a minha cidade de lá de cima aumentou-me o desejo de trazer a taça para ali.

Aterrei, desaperto o cinto, pego na mochila, levanto-me, digo bye às meninas, nas escadas levo com um frio de rachar e uma ventania que me fez lembrar as tardes de nortada na Apúlia, desço degrau a degrau olhando para o horizonte, ponho um pé e outro pé no alcatrão e estava finalmente no sonho irlandês! Somos gentilmente recebidos pelos funcionários que nos dias anteriores com certeza andaram a aprender algumas palavras em português. É tempo de percorrer o enorme aeroporto cantando músicas do Braga para apanhar os autocarros que estavam à nossa espera para nos levarem à nossa Fan Zone, pelo caminho ainda me ia mentalizando do local onde estava mas aqueles painéis de indicações em Gaélico não deixavam dúvidas, eu estava mesmo lá e como queria aproveitar ao máximo, enquanto olhava a paisagem pela janela deitava o olho aos mapas turísticos entretanto fornecidos para eu planear os meus roteiros como deve ser, embora eu já trouxesse a lição bem estudada de casa.

Fan Zone decorada à Braga, com bastantes animações e divertimentos, loja de produtos, locais de comes e bebes, um ecrã gigante e um palco. Como a fome já apertava fui logo comer, como eles sabiam que éramos portugueses poderiam ter posto comidinha tuga, umas bifaninhas e uns panadinhos, mas não, só hambúrguers e cachorros, lá comi uma salsicha dentro do pão e uma Guinness para desentalar, ouvi falar tanto nela que quis logo experimentar, mas para mim não é nada de mais, é mais a fama que outra coisa, já bebi cervejas bem melhores.

Mas eu e a maioria não quisemos saber da Fan Zone para nada, participámos logo de início nas diversões e depois foi tudo para o centro e só lá voltámos no fim do dia para apanhar os autocarros gratuitos para o estádio. Como havia muito tempo e já que paguei bem, aproveitei para conhecer Dublin o máximo que pude, já me pus a fazer linhas no google e andei sem brincar uns 15Km a pé o dia todo. Adorei as zonas pedonais, principalmente as ruas de Temple Bar, a Custom House é enorme, a City Hall imponente, a Chathedral Church apaixonante,  a St Patrick's apaziguante e a Trinity College Dublin (maneira mais chique de dizer universidade.xb) é lindíssima a fazer lembrar aquelas universidades de edifícios históricos com jardins enormes que estamos habituados a ver nos filmes, mas não me perdoo por ter-me esquecido de ir ao castelo!

Sendo eu um amante de parques verdes queria muito ir visitar o gigantesco Phoenix Park mas ficava longe, fui então ao pequenino mas romântico e lindíssimo Saint Stephen's Green por essa altura o vento já tinha ido embora e levado com ele o frio, eu já estafado de tanto caminhar e encantado com as crianças a brincar naqueles jardins e a dar comida aos patos do lago, deito-me na relva e deixo o sol que então começou a brilhar e desfrutar da calma que ali se sentia. Aproveitei também para ver as fotos que tinha tirado e estiquei os meus dois cachecois na relva para lhes tirar fotografias principalmente ao das assinaturas, sentei-me e o sol permanecia, os pássaros cantavam e eu pensava em todos vós - queria tanto que todos tivessem ali comigo - e em todos os Braguistas que queriam estar a viver aquele sonho. Outro pensamento também me veio à cabeça: Depois de Liverpool eu comecei a acreditar nesta final, juro que algo me dizia que iríamos lá estar, e logo aí que comecei a acreditar nesta possível final eu imaginei como seria esta viagem com outra pessoa mesmo sabendo que provavelmente ela não poderia vir, mas hoje mesmo que pudesse ela já não viria fazer esta viagem comigo. Como a vida muda e nos foge em tão pouco tempo...

Estive nas ruas de Temple Bar por várias ocasiões pois era a zona mais movimentada, todos os caminhos iam lá ter e lá animação e gente era o que não falava, era o ponto de maior reunião de adeptos, adeptos dos dois clubes confraternizavam, tiravam fotos em conjunto, bebiam, saltavam, cantavam cada um para seu lado, sempre tudo num clima de respeito e grande festa, era uma festa portuguesa com certeza! Da ultima vez que por lá estive apareceu um grupo de universitários que nos convidou para ir jogar rugby com eles para os campos da universidade, alguns de nós lá foram incluindo portistas, ali éramos todos amigos. Explicaram-nos as regras direitinhas e lá tentamos jogar, uns deles vieram para a nossa equipa e alguns dos nossos foram para a deles para as coisas ficarem equilibradas e a minha equipa ganhou. No fim do jogo ficamos por lá a beber e a confraternizar com a malta universitária principalmente feminina, as irlandesas são simpáticas mas a beleza não abunda naquela ilha infelizmente.

Antes disto já tinha visto a rainha de Inglaterra, ia a passar junto ao rio Liffey para ir a um supermercado na marginal, oiço as sirenes e o barulho dos helicópteros a sobrevoar a zona, já que estava ali encostei-me às grades de segurança e pouco tempo depois passa ela, no momento em que passa por mim ela acena para o meu lado, e eu "ah, estou muito mais feliz agora". Térice.

Resumindo, via-se portugueses por todas as ruas e sempre em festa. Dublin, uma cidade lindíssima e bem organizada que soube respeitar a sua história embora com alguns mamarrachos pelo meio também mas que pouco se notam. Muitos parques verdes! Será pedir muito pelo menos um do género para Braga, onde as pessoas se possam deitar na relva a ler, passear de bicicleta, caminhar, dar comida aos patos, dar uns pontapés na bola? Será que aquele dinossauro político saiu do Hotel e foi ver como se fazem cidades?

Eram cerca de 17h e comecei a caminhar em direcção à Arena O2, local da nossa Fan Zone para comer qualquer coisa e preparar-me para ir para o jogo de uma vida. A partir daqui e como o conteúdo é de teor diferente, a história virá num novo post.

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